terça-feira, 1 de maio de 2012

Bernardim Ribeiro

A vida de Bernardim Ribeiro (1482-1552), mestre tutelar do bucolismo português, é lembrado sobretudo pela novela Menina e Moça ou Saudades, escrita em vos feminina, uma das obras mais enigmáticas de toda a literatura portuguesa. Quase nada se sabe: nasceu provavelmente na vila alentejana do Torrão, em 1482. Teria frequentado a Corte. É muito provável ter sido ele quem escreveu poemas que qparecem com um nome igual ao seu no Cancioneiro geral da Garcia de Resende. É também, de par com Sá de Miranda e Camões, um doa maiores poetas quinhentistas.
Como poeta é autor de cinco éclogas (gênero helenístico, pequeno poema pastoral em forma de diálogo), um romance em verso, e sextinas. Foi um dos primeiros - se não o primeiro - a adotar em Portugla: o dolce stil nuovo (celebrizado por Teócrito, grego de Siracusa, e contibuada por Virgílio e pelos italianos, sendo Sannazaro o mais célebre), mas em suas composições pastoris pulsa, na verdade, um cultor entranhado de "medida velha".
Senhor de uma linguagem estilizada, repleta de arcaismos, Bernardim prolonga a tradição dos Cancioneiros medievais, tendente a confurndir-se com a simplicidade da linguagem popular. Que permeia toda a poesia portuguwsa, dos Cancioneiros a Camões, Antero de Quental e Fernando Pessoa.
A poesia de Bernardim era já uma poesia chorosa, como se usava então. Salvam-se dela alguns bonitos versos, entre os quais estes quatro, que parecem dedicados ao seu grande amor:

Fui e sam grande amador, / a vai-me bem mal d'amores / e muitos vi de grão dor... / mas este - suma das dores.

Em 1554, dois anos após o falecimento de Bernardim Ribeiro, publicavam-se em Ferrara as suas obras: a História da Menina e Moça ou Saudades, as cinco éclogas e algumas poesias pequenas, em que não vinham incluídas as que circulavam já no Cancioneiro re Resende.

Trecho de a Menina e Moça ou Saudades

Menina e moça me levaram de casa de
minha mãe para muito longe. Que causa
fosse então a daquela minha levada, era
ainda pequena, não a soube. Agora não lhe
ponho outra, senão que parece que já então
havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto
tempo quanto foi necessário para não poder
viver em outra parte. Muito cointente fui em
aquela terra, mas, coitada de mim, que em
breve espaço se mudou tudo aquilo que em
longo tempo se buscou e para longo tempo
se buscava. Grande desaventura foi a que
me fez ser triste ou, per aventura, a que me
fez ser leda. Despois que eu vi tantas cousas
trocadas por outras, e o prazer feito mágoa
maior, a tnta tristeza cheguei que mais me
pesava do bem que tive, que do mal que
tinha. (...)



Jano e Franco
  (Excerto)

Dizem que havia um pastor
antre Tejo e Odiana,
que era perdido de amor
per ua moça Joana
Joana patas guardava
 pela ribeira do Tejo,
seu pai acerca morava
e o pastor, de Alentejo
era, e Jano se chamava

Quando as fomes grandes foram,
que Alentejo foi perdido,
da aldeia que chamam o Terrão
foi este pastor fugido.
Levava um pouco de gado,
que lhe ficou doutro muito
que lhe morreu de cansado;
que Alentejo era enxuito
d'agua e mui seco de prado.

Toda terra foi perdida;
no campo do Tejo só
achava o gado guarida:
ver Alentejo era um dó!
E Jano, pera salvar
o gado que lhe ficou,
foi esta terra buscar;
e, se um cuidado levou,
outro foi ele lá achar.

O dia que ali chegou
com seu gado e com seu fato,
com tudo se agasalhou
em ua bicada de um mato.
E levando-o a pascer,
omoutro dia, à ribeira,
Joana acertou de ir ver,
que se andava pela beira
do Tejo a flores colher.

Vestido branco trazia,
um poucoafrontada andava;
fermosa bem parecia
aos olhos de quem na olhava.
Jano, em vendo-a, foi pasmado;
mas, por ver que ela fazia,
escondeu-se antre um prado:
Joana flores colhia,
Jano colhia cuidado.
(...)


Fonte: www.antoniomiranda.com.br
            http:/flabbergasted2.wordpress.com/sextinas-bernardim-ribeiro/

Rodrigo Gomes Cavalcante

2 comentários:

  1. Achei interessante comentar sobre este escritor pouco falado. É bom para traçarmos paralelos entre esses dois poetas. Analisar as diferenças entre suas características.

    ResponderExcluir
  2. Legal.
    Acho que seria muito interessante se pegassemos diversos poetas e poemas do Renascimento para mostrar as características de cada um deles e compará-los com artistas de outras épocas.

    ResponderExcluir